Alta da Selic aumenta desemprego entre homens negros, diz Made
- Reinaldo Stachiw
- 4 de mar. de 2023
- 2 min de leitura
Levantamento do Made (Centro de Pesquisa em Macroeconomia das Desigualdades) da USP (Universidade de São Paulo) mostra que os homens negros são o grupo mais afetado por mudanças na taxa básica de juros, a Selic, quando comparado a homens brancos. A Selic está em 13,75%.
Segundo nota que resume dados de um estudo de dezembro de 2022, o aumento de 1 ponto percentual na Selic real (a taxa Selic descontada da inflação) aumenta o desemprego de homens negros em 1,22 pontos percentuais. O levantamento utiliza como referencial os dados de desemprego entre homens brancos.

Eis a íntegra (258 KB) da nota do Made na última 5ª feira (2.mar.2023) e a íntegra (799 KB) do estudo de dezembro de 2022.
“Concluímos que a política monetária de elevações na taxa de juros não é neutra quanto a gênero e raça no Brasil. O impacto distinto de políticas públicas sob a perspectiva de gênero e raça, se não considerado, podem contribuir para a perpetuação de desigualdades socioeconômicas”, afirma a nota.
Em contrapartida, mudanças na taxa de juros não têm efeito no desemprego de mulheres negras em comparação aos homens brancos. Já para as mulheres brancas, o aumento de 1 ponto percentual na Selic real reduz o desemprego em 1,46 pontos percentuais.
“Isso pode ser explicado por sua posição no mercado de trabalho: a maioria das mulheres negras no Brasil está alocada em setores que não são sensíveis a mudanças na taxa de juros, como serviços de cuidado”, diz o texto.
Além disso, o levantamento ressalta que o efeito de políticas monetárias sobre gênero e raça podem variar significativamente entre regiões brasileiras. Homens negros e mulheres negras somam aproximadamente 70% do mercado de trabalho do Norte e Nordeste, enquanto Sul, Sudeste e Centro-Oeste têm uma menor participação de negros no mercado de trabalho -uma média de 43%.
“Mesmo controlando a composição setorial e o nível educacional, o impacto negativo de uma política monetária contracionista é maior para os homens negros quando em comparação aos homens brancos, especialmente nas regiões com menor população negra”, diz a nota.
O Banco Central optou por manter a taxa básica, a Selic, em 13,75% ao ano, valor em vigor desde setembro de 2022. O Copom (Comitê de Política Monetária) justifica a manutenção do patamar pela necessidade de se cumprir a meta de inflação, estabelecida a 3,25% para 2023, com teto de 4,75%.
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