Milei na Argentina: escândalo de corrupção, queda de popularidade e ataque a pedradas nas ruas
- Reinaldo Stachiw
- 29 de ago.
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A cena foi de caos e marcou o ápice de duas semanas críticas para o presidente argentino, Javier Milei. Na quarta-feira (27/8), Milei precisou ser retirado às pressas durante um ato de campanha na província de Buenos Aires. Manifestantes cercaram sua comitiva e, entre gritos e insultos, atiraram pedras e outros objetos contra um veículo da sua caravana eleitoral.

O ataque obrigou o presidente a suspender o comício e aumentou as tensões frente às eleições provinciais, no próximo dia 7 de setembro, e do pleito legislativo de meio de mandato, em 26 de outubro.
Para Milei, as eleições são fundamentais. O presidente precisa aumentar o número de legisladores aliados no Congresso argentino e saber se detém capital político para buscar a reeleição, daqui a dois anos.
Tudo indicava que seu partido, A Liberdade Avança, chegaria como favorito para as eleições de meio de mandato, graças ao controle da inflação e ao dólar que não trazia maiores desagrados. Mas o panorama mudou.
Em reportagem publicada na segunda-feira (25/8), o jornal argentino La Nación destacou que a primeira quinzena de agosto foi a pior do mandato de Milei, em termos da confiança do público no seu governo.
O jornal informou que, segundo a Universidade Torcuato di Tella, em Buenos Aires, o Índice de Confiança no Governo caiu, em um mês, de 2,45 para 2,12 pontos, o que representa uma queda de 13,6%.
A avaliação foi realizada antes de 20 de agosto, quando ocorreu a publicação de áudios que relacionam a secretária e irmã do presidente, Karina Milei, a um escândalo referente a uma suposta rede de subornos na Agência Nacional de Incapacidade (Andis, na sigla em espanhol).
Os mercados reagiram negativamente ao ocorrido, segundo a agência de notícias AFP. Houve aumento do índice de risco país, que avalia o custo do endividamento do governo em moeda estrangeira.
Os áudios vazados
Os áudios vazados foram gravados secretamente no ano passado. Neles, uma voz atribuída ao ex-diretor da Andis, Diego Spagnuolo, afirma que Karina Milei receberia suborno sobre o pagamento de remédios a pessoas com incapacidade.
Depois do vazamento, Spagnuolo foi destituído e o advogado Gregorio Dalbón, representante legal da ex-presidente argentina Cristina Fernández de Kirchner (2007-2015), apresentou uma denúncia à Justiça argentina.
"Karina leva 3%", diz o ex-funcionário do governo em uma das gravações, segundo a agência AFP.
Spagnuolo também representou legalmente Milei e era presença assídua na residência presidencial. Ele também garante ter informado o presidente sobre o esquema de corrupção.
A irmã do presidente ainda não se manifestou sobre o escândalo, embora o caso tenha dominado as manchetes e as discussões nas redes sociais na Argentina.
Por outro lado, o presidente negou os fatos pouco antes do ato de campanha do qual foi evacuado às pressas.
"Tudo o que ele diz é mentira", declarou ele. "Vamos levá-lo à Justiça e demonstrar que ele mentiu."
Na última sexta-feira (22/8), o juiz federal Sebastián Casanello emitiu 16 mandados de busca relativos ao caso. Na ocasião, foram confiscados os telefones de Spagnuolo e de diretores da empresa farmacêutica Suizo Argentina, mencionada nas gravações vazadas.
Golpes legislativos e aumento do risco país
O caso envolvendo Karina Milei veio a público depois que, em 21 de agosto, a Câmara Baixa do Congresso argentino derrubou o veto presidencial a uma lei que declara situação de emergência no atendimento a pessoas com incapacidade e aloca mais fundos ao setor.
Paralelamente, o Senado argentinou rejeitou uma série de decretos presidenciais, que pretendiam reduzir o orçamento estatal, e aprovou o aumento dos valores destinados à saúde e às universidades públicas.
O analista político argentino Andrés Malamud resumiu, na sua conta no X (antigo Twitter), o histórico legislativo do governo nos últimos meses.
"Desde que assumiu, o governo enfrentou 34 votações legislativas", segundo ele.
"Foram 17 até março de 2025 e ganhou 15. Houve 17 desde abril de 2025 e perdeu 16. A composição do Congresso não se alterou, o dano foi totalmente autoinfligido."
As derrotas parlamentares, somadas à queda da confiança pública, fizeram com que o risco país voltasse a subir para 829 pontos básicos, um nível que não era observado desde o mês de abril.
Analistas indicam que este nível de risco dificulta para o governo conseguir dinheiro nos mercados internacionais para pagar a dívida que vence no ano que vem. Tudo isso representa um desafio para o programa de cortes comandado por Milei desde sua posse, em dezembro de 2023.
Por outro lado, duas pesquisas realizadas pelas empresas de comunicação La Sastrería e Trespuntozero, publicadas na quinta-feira (28/8) também pelo jornal La Nación, mostram uma deterioração inédita da avaliação do governo Milei no país.
A imagem do seu governo caiu oito pontos nas últimas seis semanas. Milei caiu para o terceiro lugar no ranking de avaliação de dirigentes políticos, atrás do governador da província da Buenos Aires, Axel Kicillof, e da ex-presidente Cristina Kirchner — seus dois principais opositores.
Uma das pesquisas analisou a percepção do público sobre o caso dos supostos subornos.
62,5% dos entrevistados acreditam que os áudios refletem episódios graves de corrupção no governo, enquanto 32,8% consideram que se trata de uma operação política, que é a posição defendida pelo governo argentino.
Por isso, o partido A Liberdade Avança mantém expectativas moderadas sobre seu desempenho nas eleições de domingo, 7 de setembro. E também promove o discurso de que a oposição realizaria "todo tipo de fraude" na votação.









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